sábado, 31 de agosto de 2013

Consultando o "Seu Dotô"




Dotô, tô com mucuim duído
Uma baita farta de ar,
Tô cum corpo todo muído
Naum posso nem rispirar.

Tenho os zóio nuveado
Um zumbido no zovido,
Sinto o bucho quebrado
Como se tivesse intupido!

Dotô, essa dô nas cadeiras
Tá tirano meu rebolado,
Que faço com essa bicheira
E esse bucho quebrado?

Essa murrinha no corpo
Me dexa com lundu danado,
Reimoso da carne de porco
Dá essa dô de viado?

Ah dotô, meu aperreio
É por causo desse ispinhaço,
Essa gastura, esse entojo
Diz dotô, o que é que eu faço?

Eu sei que o dotô vei de longe
Que andô mais de cem légua,
Se o Dotô não pode ajudar
Vixe maria, arre égua!

Dotô cubano me acuda
O senhô não sabe português?
Como vai intendê a consuta
Se eu só falo cearês?



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Postes de Lampião..



Já não há mais amigos lampeiros
Para acenderem as ruas da cidade,
A luz chega iluminando letreiros
É nosso lembrete de modernidade.

Nem há canto choroso dos seresteiros
Que declamavam exalando mocidade,
Os acordes dos amores nos violeiros
Perdeu-se o tom, virou mediocridade.

Poetas apaixonados exaltando amor
Nos belos versos as musas amadas,
Sofria-se com o cotovelo a dor
Nostalgia nas lagrimas derramadas.

Onde foi parar o sentimentalismo
Que inspirava poetas apaixonados?
Robertos, Martinhos, Vinicius,
Amores platônicos, enamorados?

Sair à noite não é mais aventura
Na esquina escondem-se marginais,
E lá se vão às boas conjecturas
De curtir momentos especiais.

Estregar-se aos braços de Orfeu
Para ouvir a lira do coração,
Que saudades dos encantos do breu
Sob mal iluminados postes de lampião!





quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Velhice Idiota



Quando a velhice chega
Enrugando a pele,
Vai fazendo prega
Acentuando a idade
Será culpa da gravidade?
Ah, que maldade!

Já não dá
Para levantar o braço
A pelanca balança.

Já não há
Como acelerar o passo
Pois o corpo empanca

Nem pode- se fica bonita
Com a cara pintada
Parece que foi rebocada.

Não adianta Botox
O pescoço denuncia
Até se colar com epóxi!

O espelho engana
O cabeleireiro blefa
Mas o corpo reclama.

O que os olhos veem
O coração disfarça
E aja farsa!

Já não dá para tapar
As rugas com um chapéu,
Não dá para esconder
As mãos como um jabuti,
Nem vale usar um véu
A cara é de sapoti.

Nem uma coisa acalenta
Essa velhice idiota,
Porque depois dos cinquenta
Cada ano é um transtorno,
O viço da pele se nota
Só nascendo de novo!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Porque também sou astro!





Explosões, clarões, cachos de astros
no breu, raios gamas incandescentes;
Colisões de partículas tal qual mastros
iluminam o espaço de galáxias luzentes.

Abaixo dessa cósmica dança de rastros
e longe de atmosferas efervescentes;
O azul celeste espalha-se num lastro
e brancas nuvens flutuam indiferentes.

E quando a natureza expõe suas cores
Iluminada pela estrela mor que aquece
meus olhos firmam meu campo vasto.

Olhando o espaço sem ter divisores
Descortinada da razão que embrutece
Relevo-me que também sou astro!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

universo em xeque mate

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Se pudesse olhar de fora do universo
Decifrando jogos que se desenrolam,
Veria um enorme tabuleiro desperto
Pois de perto as peças se embolam.

Como colcha de retalhos ou um terço
Uma mesa de bilhar, ondas que rolam
Como letra que se unem para um verso
Fragmentos de uma louça que se colam.

Aqui de baixo fica tudo tão disperso
Caminhos se cruzam, mas não esbarram
Falta o toque,falta à sorte do encarte.

Se eu pudesse ver de fora este berço
Onde acontecimentos se entrelaçam
Percorreria a via do xeque mate